sexta-feira, 30 de maio de 2008

Rapa Geral

Recife, 30 de maio de 2008 - Sétimo Dia

Foi tudo muito rápido, tanto que ainda não deu tempo de organizar as palavras dentro da cabeça. Elas vêm desordenadamente, numa bagunça tão grande, que ele seria o primeiro a reclamar. Fica até difícil costurar um pensamento no outro por enquanto, porque o assalto foi dos grandes.

De mãinha, Dona Mercia, roubaram o marido leal; o ‘amarelinho’ com quem tanto implicava só pra depois fazer as pazes. Tiraram dela o pilar central e o prumo; a outra metade, que era bem oposta mesmo, pra balancear direitinho o casal.

Num gesto violento, arrancaram de mim, Ana e Cacau, o pai extraordinário, personificação da honestidade e da pureza. A figura que nas manhãs de sábado brincava de ‘rebola bola’ na cama, enquanto o ‘homem do bode’ chamava no portão. O patrocinador de muitos desfiles na volta das compras no shopping center. O investidor corajoso e determinado, que apostou no desenvolvimento de três profissionais e cidadãs. O sujeito que ensinou que a união e o respeito são os maiores alicerces de um lar.

Dos meus tios e primos, levaram o irmão e tio exemplar. Um cara fechado e ao mesmo tempo muito transparente, porque sempre deixou à mostra seus valores, sua integridade e sua dedicação à família.

Roubaram de todos os amigos o convívio com um companheiro fiel. Privaram a turma de estar ao lado de uma pessoa autêntica, que nunca se preocupou em fazer social por fachada e, por isso mesmo, cativou o carinho e a admiração de todos.

Mas eu acho que quem mais saiu perdendo foi o IPSEP, essa cidade, o Brasil, porque nesse rapa geral subtraíram da nossa sociedade um homem verdadeiro, sinônimo de dignidade, que sempre se destacou, ao menos no seu mundo, pela determinação, pelo bom caráter e, principalmente, pela crença na transformação através da educação e do trabalho.

Paulo Cavalcanti de Souza, economista aposentado, foi assassinado num assalto, na garagem de sua casa, no último sábado, dia 24.